quarta-feira, 24 de junho de 2009

PARECER DA SOCIEDADE PORTUGUESA DE MATEMÁTICA SOBRE O EXAME NACIONAL DE MATEMÁTICA DO 3.º CICLO DO ENSINO BÁSICO

1. Após análise ao Exame do 9º ano hoje efectuado, a SPM verifica que o nível geral da prova é
de novo demasiado elementar. O exame destina-se a alunos no final da escolaridade obrigatória. Após nove anos de ensino de matemática exigir-se-ia um maior grau de dificuldade.

2. Logo na pergunta 1, pede-se a média aritmética de três números: 382, 523 e 508. A facilitar ainda os cálculos, que são triviais na posse da calculadora permitida nesta prova, fornece-se a soma (1413) — é uma questão do 6.º ano de escolaridade. Na pergunta 5, pede-se ao aluno que leia valores num gráfico simples. Após leitura desses dados pede-se que calcule o valor de 100 euros em libras, sendo sabido quantas libras vale um euro. A pergunta 6 está ao nível do 3.º ano de escolaridade. Na pergunta 7, pede-se para identificar um sistema de duas equações a duas incógnitas que nem se pede para resolver.

3. Em quase todas as perguntas, os conceitos são testados com exemplos demasiado elementares. Os cálculos são todos muito simples, a equação do segundo grau é trivial, para mais sendo fornecida a fórmula resolvente, e os exemplos de geometria são demasiado directos.

4. Não há problema algum em introduzir num exame perguntas de anos anteriores ou de grau de dificuldade baixo. O que é prejudicial é que um número exagerado de perguntas corresponda a tópicos que deveriam estar sabidos anos antes e que todas ou quase todas as perguntas tenham um grau de dificuldade muito baixo.

5. Grande parte da matéria essencial do 9.º ano de escolaridade não foi coberta por esta prova. É o caso da resolução de inequações, sistemas e equações literais, multiplicação de polinómios, intervalos de números reais, proporcionalidade inversa e igualdade ou semelhança de triângulos.

6. Tanto professores como alunos que se empenharam durante estes anos lectivos sentem-se desacompanhados e desapoiados com esta prova. O que exames deste tipo transmitem é a ideia de que não vale a pena estudar mais do que as partes triviais das matérias. Tanto os jovens que prosseguem os seus estudos no Secundário como os que terminam aqui a sua escolaridade não podem concluir estar bem preparados pelo facto de conseguirem um resultado satisfatório neste exame.

7. Pode pensar-se que provas elementares têm a vantagem de ajudar a perceber que as questões matemáticas não são intransponíveis. Mas estabelecer patamares demasiado baixos, em vez de incentivar a mais estudo e mais conhecimento, acaba por prejudicar todos — tanto os melhores, que se sentem desincentivados, como os menos treinados, que sentem menos necessidade de trabalhar para aumentar o seu domínio das matérias. Em suma, uma prova demasiado elementar como esta não serve o progresso do ensino. Pelo contrário, cria precedentes difíceis de contrariar.

8. A matemática é uma das matérias mais importantes para a formação dos nossos técnicos e dos cidadãos do futuro. Estamos no século XXI. É urgente formar técnicos competentes, capazes de competir num mercado internacionalizado e numa economia em que o conhecimento tem uma importância cada vez maior.

O Gabinete do Ensino Básico e Secundário
Da Sociedade Portuguesa de Matemática

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