segunda-feira, 7 de setembro de 2009

RESCALDO: LOUÇÃ X MANUELA

Manuela Ferreira Leite estreiou-se na noite passada nos debates televisivos para as legislativas, com Francisco Louçã.

A presidente do PSD e o líder do BE defenderam ontem ideias opostas sobre o papel do Estado e dos privados na economia e na saúde, num frente-a-frente na TVI.

Os dois dirigentes concordaram em duas questões pontuais: que a Caixa Geral de Depósitos deve facilitar o crédito às pequenas e médias empresas e que a reabilitação urbana deve ser uma prioridade.
No essencial, Ferreira Leite e Francisco Louçã divergiram, a começar sobre as nacionalizações feitas a seguir ao 25 de Abril de 1974 e as privatizações feitas a partir da década de 90.
Como se previa, o frente-a-frente entre Manuela Ferreira Leite e Francisco Louçã deixou evidentes todas as diferenças entre as perspectivas do PSD e do Bloco de Esquerda (BE) para o futuro do país. Pelo meio, algumas irónicas coincidências nos objectivos: no acesso à saúde ou no apoio aos desempregados, por exemplo. Mas com trajectórias diferentes para o fim comum. Convergência absoluta apenas num ponto: a rejeição total ao "acto de censura" na suspensão do jornal da TVI apresentado por Manuela Moura Guedes.

O "debate de todas as diferenças", como apontou Louçã, começou pela discussão sobre a economia do país. De um lado, as nacionalizações propostas pelo BE. "A boa política económica tem de ter bens públicos", defendeu Louçã, criticando "a economia da facilidade da não concorrência e dos monopólios". Por contraponto, Ferreira Leite defendeu novamente "a redução do peso do Estado" na economia e contestou as prioridades do BE: "O problema da economia portuguesa não está numa dezena de empresas, mas sim nas 300 mil pequenas e médias empresas (PME) em que assenta o nosso sistema produtivo".

Ainda no plano económico, Louçã voltou a sublinhar a necessidade de "medidas excepcionais para aumentar o subsídio de desemprego", num investimento do Estado que, diz, deverá ser "compensado pelo sistema fiscal". Ferreira Leite admitiu a coincidência de pontos de vista no "respeito pela solidariedade", mas com um modelo de actuação diferente: "A solução do BE esgota- -se em meia dúzia de meses e não aumenta o emprego", apontou, sublinhando novamente o "foco do programa do PSD" nas PME. "O seu programa é tão vago que não diz nada. E quando diz, você vem dizer que não", respondeu Louçã.

A crítica do coordenador do BE surgiu minutos depois de ter acusado o PSD de querer privatizar parte da segurança social. "A diferenciação está categoricamente nas propostas do PSD, que quer que uma parte dos descontos dos portugueses vá para fundos privados", disse. Um tema cuja abordagem mereceu "um desabafo" de Ferreira Leite: "Há uma manipulação escandalosa de uma coisa que eu nunca disse. Se há coisa sensível para os portugueses é a segurança social, e eu digo que não vamos mexer nisso, não está no programa". Mas Louçã reiterou: "Está lá a diferenciação".

Na área da saúde, Louçã voltou a acusar Ferreira Leite de "fugir do seu programa como o diabo foge da cruz". Em causa estava a grande divergência no recurso ao sector privado. Louçã criticou "a absurda e ridícula invenção das parcerias público-privadas" e focou-se no "rigor das contas". "O seu governo deixou 1.512 milhões de euros de dívida", apontou. Ferreira Leite contrapôs: "Não se pode reduzir o problema da saúde à questão financeira. É pior que alguém morra por não ter atendimento no serviço público. A saúde não é um negócio."

Ainda mais acentuada foi a divergência nas questões fracturantes, nomeadamente no casamento entre homossexuais. "Nunca vou fechar os olhos a um Estado que persegue ou que dita o amor de uma pessoa", defendeu Louçã. "O casamento perspectiva filhos e o casamento entre pessoas do mesmo sexo não perspectiva filhos", invocou Ferreira Leite.

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