segunda-feira, 14 de setembro de 2009

RESCALDO: SÓCRATES X MANUELA

O tema do combate à crise foi o que gerou hoje maior controvérsia e divergência na primeira parte do debate entre os líderes do PSD, Manuela Ferreira Leite, e do PS, José Sócrates, na SIC. TGV e Segurança Social foram os outros temas da discórdia.

 

Manuela Ferreira Leite foi a primeira a pronunciar-se sobre a actual conjuntura económica do país, dizendo que antes da crise, em 2008, já todos os indicadores registavam um sentido descendente para Portugal, designadamente ao nível do crescimento, endividamento, carga fiscal e desemprego.

"Quando veio a crise, que efectivamente agravou todos os indicadores, foi uma benesse para o engenheiro Sócrates, porque neste momento ele tem a hipótese de dizer que a situação do país se deve a uma crise. Se não houvesse a crise, penso que o engenheiro Sócrates teria muita dificuldade em estar aqui como candidato a primeiro-ministro", atacou a líder social-democrata, antes de colocar em causa os reais conhecimentos do líder do PS sobre economia.

Na resposta, o secretário-geral do PS citou uma frase de Abel Salazar: "Quem só sabe de medicina nunca será bom médico. Foi esta a resposta que lhe dei a si no Parlamento a propósito desse seu pretenso conhecimento de economia superior aos outros".

"Nunca fica bem considerarmos que conhecemos mais do que os outros. A virtude do sabedor é sempre a humildade", reagiu Sócrates, antes de contrapor que Manuela Ferreira Leite citou dados na altura do "pico" da crise económica mundial, final de 2008, e não antes dela.

Para contrapor os dados económicos citados pela líder do PSD, Sócrates sustentou que em 2007 o país cresceu mais do que nos três anos entre 2002 e 2004, advogou que em 2007 Portugal "estava a criar empregos" e concluiu que entre si e Manuela Ferreira Leite, além de diferenças de agendas económicas, há também diferenças de atitude.

Sócrates disse puxar pelas energias e pela confiança dos portugueses, acusando em contraponto Ferreira Leite de ser "negativista" e "pessimista".

"Nunca vi um pessimista criar um postos de trabalho", observou Sócrates.

"Um optimista também não cria postos de trabalho", ripostou a presidente do PSD, numa debate que abriu com o tema da qualidade da democracia.

A presidente do PSD foi confrontada pela moderadora do debate, a jornalista Clara de Sousa, com a presença de dois candidatos a deputados arguidos em processos judiciais, Helena Lopes da Costa e António Preto).

Manuela Ferreira Leite reagiu dizendo que se recusa a misturar política e questões de justiça.

Neste ponto, o secretário-geral do PS passou ao ataque e afirmou que o cabeça de lista do PSD pela Madeira, Alberto João Jardim, "é um falso candidato, já que não será deputado".

Manuela Ferreira Leite respondeu que a regra no PSD é não haver candidaturas simultâneas a câmaras e à Assembleia da República, o que não é o caso de Alberto João Jardim. 

Segurança Social 

Durante o debate, Manuela Ferreira Leite acusou o Governo de ter feito uma reforma da Segurança Social baseada "no aumento da idade de reforma" e "na redução das reformas", omitindo aos portugueses o quanto vão perder nas suas futuras reformas.

Segundo a presidente do PSD, em vez dos actuais "70 ou 80 por cento" do vencimento a que correspondem as reformas, "daqui a dez anos" os portugueses receberão "metade do seu vencimento bruto".

Depois de Manuela Ferreira Leite repetir essa acusação, José Sócrates contrapôs que "não é assim".

Quanto à proposta do PSD, Ferreira Leite reiterou que está inscrito no seu programa eleitoral o compromisso de "não mexer na Segurança Social na próxima legislatura".

José Sócrates respondeu que não é só isso que está no programa do PSD e alegou que, de forma não assumida, os sociais-democratas aludem à possibilidade de "passar para o privado" uma parte das contribuições dos portugueses.

"Tem medo dessa proposta e então não a escreve. Não é assumida porque estamos em tempo de eleições", acusou o secretário-geral do PS, depois de lembrar que o PSD apresentou durante a liderança de Marques Mendes um projecto de lei nesse sentido.

A presidente do PSD rejeitou a acusação, afirmando: "Proponho ao país aquilo que efectivamente eu penso".

Ferreira Leite terminou a discussão deste ponto dizendo que aquilo que quer "é corrigir os erros e as consequências negativas da actual reforma" da Segurança Social. 

Espanhóis e TGV
 
A presidente do PSD acusou o PS de, conjuntamente com autarcas de Espanha, estar envolvido em manifestações e pressões contra si por causa do TGV e afirmou não gostar "dos espanhóis metidos na política portuguesa".

A presidente do PSD alegou que Espanha está interessada em que a rede ferroviária de alta-velocidade (TGV) chegue a Portugal para captar "mais fundos comunitários".

"Eu não estou aqui para defender os interesses espanhóis, eu estou aqui para defender os interesses portugueses. Portugal não é uma província espanhola. Peça aos seus camaradas da fronteira que deixem de fazer manifestações e petições e pressões sobre mim própria juntamente com os espanhóis por causa do TGV", disse a José Sócrates, que observou não perceber do que é Ferreira Leite estava a falar.

"Camaradas seus portugueses, juntos com autarcas espanhóis, em conjunto, têm feito manifestações e têm feito pressões contra a minha pessoa", respondeu a presidente do PSD.

Sócrates considerou que essas alegadas manifestações são "uma expressão legítima de discordância", mas Ferreira Leite discordou: "Não gosto, sabe. Não gosto dos espanhóis misturados com os portugueses. Não gosto dos espanhóis metidos na política portuguesa. Eu não tenciono resolver os problemas de Portugal em função dos interesses espanhóis".

Quem é que está a ser "julgado"?

Ao ataque, Sócrates afirmou que Ferreira Leite retirou do programa do PSD a oposição às auto-estradas sem custos para o utilizador (SCUT) e lembrou que fez parte de um Governo favorável à rede ferroviária de alta-velocidade (TGV), de que agora discorda.

O secretário-geral do PS alegou ainda que a presidente do PSD deixou de defender publicamente privatizações em sectores como a saúde e a educação por razões eleitorais e criticou a governação passada do PSD.

Ferreira Leite rejeitou as críticas, respondendo que a receita que se ganharia com o fim das SCUT não justifica essa medida em momento de crise e recusou a intenção de privatizar serviços públicos de saúde e educação.

"Quem está aqui a ser julgado é o engenheiro Sócrates", afirmou. "Estamos todos a ser julgados sempre", ripostou Sócrates. "Não estamos. Eu nunca fui primeiro-ministro", insistiu Ferreira Leite.


Lusa

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